quarta-feira, 26 de outubro de 2016

She Bangs The Drums



1989 são daqueles anos que marcam a vida de uma pessoa, sim, são emblemáticos, sabáticos ou qualquer outro termo que queiram dar. Meu Botafogo finalmente saindo da fila de títulos e sendo campeão depois de 21 anos, eleição para presidente depois de 25 anos de ditadura militar e eu conseguindo o meu primeiro emprego. Sim foi um ano que marcou. Somado a isso um disco que saiu nesse ano cravou na alma, não só um disco, mas sim um disco espetacular! Psicodélica, dance music, rock e uma nova postura rock tudo isso num vinil de 11 músicas. O primeiro disco do Stone Roses marcou muito naquele ano de 1989. Desde que eu ouvi a música “She Bangs The Drums” na Fluminense FM saquei que havia algo de novo. Algo de diferente. Já tinha tido um contato visual com a banda e o movimento de Manchester que seria batizado de “madchester” sendo o Stone Roses a linha de frente de bandas como Happy Mondays e The Charlatans entre outras, numa revista The Face com o vocalista Ian Brown na capa que eu tinha comprado. A banda vinha com um visual desleixado camisas largas e cabelos a moda anos sessenta, tinha muito pontos a frente de bandas como Guns and Roses, Poison, Bon Jovi ou até Motley Crue que dominavam as paradas brazucas com suas calças colantes e seu rock “lamê” que de nada me diziam em criatividade e emoção. Comprei o disco na saudosa “Modern Sound” de Copacabana e a paixão pelo disco veio na primeira audição, foi arrebatador, a começar pela capa maneiríssima ao "estilo Pollock" com limões ou laranjas (até hoje não sei direito) fazendo a arte junto ao nome da banda depois por “I Wanna be Adored” que abre o disco com seu clima soturno, meio psicodélico até chegar ao clímax em apenas 4:52 minutos  depois por “She Bangs the Drums" e seu refrão contagiante, clássico supremo de qualquer festinha da época que se dizia por “prafrentex” ,“Waterfall” com um solo espetacular do guitarrista John Squire. E claro com a musica definitiva “I Am the Resurrection” que fecha o álbum em grande estilo, um álbum monumental com uma música monumental! Squire dava o som um teor psicodélico, solava o tempo todo, por vezes as suas frases de guitarra pareciam “samples” de musicas do Jefferson Airplane ou de outra banda da costa oeste americana dos anos 60. O baixista Mani não comprometia, não era um virtuoso no baixo mas se encaixava bem ao som do grupo, o vocalista Ian Brown não era um novo Robert Plant ou um novo Rod Stewart, mas a voz dele naquele momento de tantos excessos vocais tinha o timbre correto para tantos “axilas rosadas” que agrediam nossos tímpanos. Já o baterista Reni era outro papo, era o que mais me impressionava nos Stone Roses, dono de um ritmo sincopado, frenético dava ao som da banda um ar de dance music, com seu kit estranho, sem presença de “ton-tons” Nessa época já rolava um vídeo-show do grupo em blackpool, (que vi pela primeira vez em Niterói) cidade do interior da Inglaterra que sempre era muito concorrido por fãs ardorosos. Resumindo, parecia tudo e não parecia nada. Tinha Beatles, Stones, Psicodelia e sim, um pouco de som dançante no som  felizmente eu já tinha conhecido o Clash e não compartilhava de preconceitos musicais, tinha a mente e ouvidos abertos, sem preconceitos seguindo a cartilha de John Peel, não foi difícil em entrar em sintonia com eles. Pouco tempo depois apareceu a MTV Brasil com os Stone Roses em alta rotação na emissora sendo que o clipe de um “single” que não chegou a entrar no álbum “Fool´s Gold” um clássico nesses primeiros tempos da emissora, deixando um clima de expectativa para um próximo trabalho, que infelizmente não se concretizou. Nessa época meus amigos ainda estavam atrelados ao rock que parou em 1975, eles não aceitavam nem o Punk que já era pra lá de velho, eu era um dos poucos da turma que “seguia em frente” E o Stone Roses era um belo passo a frente.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Like A Rolling Stone




Desde muito criança ou como se diz por aí (desde que eu me entendo por gente) que eu ouço falar de Bob Dylan. Dylan, o menestrel, o poeta, o guardião dos injustiçados, o porta voz dos menos favorecidos e etc. Minhas primeiras audições de Bob Dylan na minha infância eram “Blowing in the Wind” que sempre tocava em algum programa com teor humanista na TV, “Lay Lady Lay” e “Hurricane” que tocavam sempre em rádios “ligths” e “good times” da vida. Um fato que sempre me chamava atenção dele em primeiro lugar era a sua estranha voz, seguido de um som simples, violão sempre predominando nas gravações, dizia meu pai que aquilo era o som caipira americano e terceiro lugar eram canções bem diferentes uma das outras. Mas nenhuma... Nenhuma mesmo era tão impactante para mim como “Like a Rolling Stone”. Quando eu escutei pela primeira vez foi um momento único, foi a caminho do colégio , tocando de algum rádio à janela nas redondezas, o refrão forte de Dylan com a sua voz nasalada e o órgão hammond clássico de Al Kooper ao fundo, tornam esse simplório momento como um dos momentos inesquecíveis na minha infância. Bem, passou o tempo me inteirei na importância de Dylan e na sua obra, devorei revistas, mas precisamente as antigas revistas Pop que meus primos tinham, já tinha a clássica coletânea Greatest Hits com a sua primeira fase, a fase de protesto, mas o negócio mesmo era ter o álbum “Highway 61 Revisited” o disco que continha originalmente “Like a Rolling Stone”. A lógica era simples, se essa música era tão extraordinária para mim naquele momento imagina o resto do álbum? Não era fácil encontrar esse disco no início dos anos 80, ele já estava fora de catalogo há muito tempo, tempos de pré Rádio Fluminense FM, o rock ainda não era a moda reinante no balneário de são Sebastião mas numa dessas andanças pelo o centro do Rio, mas precisamente na antiga Farelo Discos, eu encontro a obra-prima, velha, com a capa rabiscada, versão original americana escondida no canto, abandonado, com a famosa foto de Dylan sentado a uma entrada de uma casa com alguém atrás com uma câmera pendurada as mãos.  Puxando o disco eu me deparei com o nome Bob Dylan e levei alguns segundos a ler e entender de que se tratava de Highway 61Revisited, é bom lembrar que no inicio dos anos 80 era os anos jurássicos pré internet, naquela época não era tão banal assim ter acesso a uma simples foto de um disco clássico como esse. Ao começar por Like A Rolling Stone que abre o disco, que só por isso o disco já seria considerado um clássico instantâneo, mas o que dizer de "Tombstone Blues", "Ballad of a Thin Man"? A faixa título do álbum, que se tornou uma das músicas mais conhecidas do cantor com aquele som estranho de desenho animado se repetindo durante a música, mas o blues emocionante de "It Takes a Lot to Laugh, It Takes a Train to Cry" que teimosamente nunca conseguia ouvi-la toda por um arranhão que tinha sido feito no vinil do disco, (talvez esse o real motivo de encontrá-lo num sebo de discos) bem no finalzinho da canção e a monumental “Desolation Row” que parecia não terminar nunca, sempre num crescendo alucinante, com seu violão solando ao “estilo cigano” ao fundo da voz de Dylan e a sua gaita “mal tocada”.  A época eu não tinha idéia do que Dylan dizia, da sua poesia, das tais canções de protesto, da sua influência musical a uma geração inteira, inclusive aos Beatles, da sua maneira sempre original em fazer sua obra, de pouco a dizer e sim em mostrá-la.  Minha ligação com ele e a esse disco era puramente musical, nada, além disso. Com o passar dos anos eu conhecendo a obra toda, me inteirando melhor com a língua shakesperiana, com mais discos e mais discos dele e com a constatação absoluta de que Dylan é um poeta, um astro absoluto total da música, Highway 61 Revisited nunca saiu do posto de disco predileto dele. Tive sorte de vê-lo duas vezes ao decorrer dos anos sendo a primeira vez no Antigo festival “Hollywood Rock” na praça da apoteose, com uma pequena, porém emocionada platéia diante de um mito. Presenciávamos a história.

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Judy Is A Punk!



Lembro-me quando escutei pela primeira vez Ramones, eu detestei. Som alto, tosco, parecia mal gravado, juntando a aparência maltrapilha dos músicos me dava uma ideia de que era algum grupo de mendigos. Sim, mesmo a música sendo tocada numa rádio (Fluminense FM, a maldita) eu já tinha visto umas fotos da banda. Eu não lembro qual música era, nem cheguei ouvir a musica toda, bastou alguns segundos para trocar de dial no radio. O som não era “perigoso” só não me tocava. Eu achava um absurdo que aqueles cabeludos que pareciam um bando de motoqueiros terem algum tipo de reconhecimento no mundo do rock. Eu não conhecia o Punk, devia ter 13 ou 14 anos, não sei ao certo. Pra mim o que era o máximo da rebeldia, da Periculosidade eram os Stones, Who e Beatles. Mas certo dia de 1984 caiu em minhas mãos o primeiro disco da banda nova-iorquina, Ramones disco homônimo. Um colega de escola me convenceu a escutar aquele disco, sei lá por que motivos que entusiasmado, dizia “Pô se você curte o The Who pode ter certeza que vai curtir esse disco” eu dizia que não podia ter nenhuma conexão da Banda de Pete Townshend com aquilo. Acabei levando o disco para casa e depois de várias semanas de insistência, num sábado resolvi escutar o disco já com a pré concepção que não iria gostar.  Bem na primeira música uma bordoada de dois minutos e quarenta e um segundos que iria mudar todo o meu conceito em definitivo; Blitzkrieg Bop, uma típica canção dos Ramones que eles se especializaram em fazer durante toda sua carreira. Uma guitarra alta, rápida e o vocal urgente, sem firulas, a partir daquele momento o rock progressivo começava a perder sentido para mim. O que era aquilo? Pensava eu a cada audição... "Judy Is A Punk" "Listen To My Heart”, “I Don't Wanna Walk Around With You" todas muito curtas, barulhentas e rápidas.  Todas davam uma sensação de querer mais. Sim, eu via muita conexão com o Who e o melhor que eu via muito mais. Por certos momentos pareciam ser os Beach Boys tocavam aquilo, só que chapados, alucinados, havia alguma harmonização naquilo como os garotos praianos, mas de uma forma diferente, rápida, cheia de energia adolescente, mesmo que na época eu não tivesse muita noção disso. O colega de escola tinha razão, o som era alto, muito alto! A banda não tinha esmero em tocar, não tinha solos “babantes” de um Jimmy Page ou Rick Wakeman... Mas eu pouco ligava para aquilo naquele momento. O negócio era que eu era apresentado ao punk rock americano. Ramones na veia. Tive sorte alguns anos mais tarde em me deparar com Joey Ramone e seus comparsas por três oportunidades inclusive no malfadado show do Canecão onde houve a famosa treta da bomba de gás, apenas uma típica manifestação adolescente. Bem típico dos Ramones.