terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Sabbath Blood Sabbath

1973 é um ano pródigo em matéria de lançamentos no rock n roll, entre os mega lançamentos, clássicos ou qualquer outra referência que qualquer um queira utilizar esta “Sabbath, Blood Sabbath”, obra prima da banda britânica Black Sabbath, os criadores ao que ficou intitulado pelos críticos de música como Heavy Metal, ou rock pesado. Se antes a banda veio com um rock direto e cru nos álbuns anteriores em Sabbath Blood Sabbath eles flertam com novas nuances, com uma produção mais rebuscada, chegando um ponto a ter um "pezinho" no som progressivo. Mas estava presente ali no suco, no vinil, na bolacha o som pesado característico e os riffs pesadíssimos de Tony Iommi. A velha massa sonora, os vocais estridentes de Ozzy Osbourne continuam mais atuantes do que nos álbuns anteriores, junto a isso, Gezzer Butler com seu baixo “parede sonora” e a batera de Bill Ward fazendo uma massa sonora impressionante. Um clássico, simples assim!  A formula era a mesma com outras variantes, a fórmula consistia em o riff poderoso e alto e no final da música outra musica se incorporava na música original e surgia outro tempo. Isso era a marca registrada do Black Sabbath. O disco gerou clássicos instantâneos no repertório do Sabbath como “Sabbath, Blood Sabbath”, a faixa título (que gerou um clipe, talvez o único da banda, muito visto no antigo programa Sábado Som na TV Cultura) pouquíssima tocada ao vivo talvez pelo tom altíssimo o que dificultava Ozzy de cantá-la ao vivo e seguiam aos petardos como a progressiva “Who Are You”, “Killing Yourself to Live” (faixa que abria os shows da banda na época e ausência muito sentida no concerto da tour de despedida do Rio de Janeiro em 2016),” A National Acrobat” com suas várias mudanças de tempo impressionantes e finalmente a poderosa “Fluff/Sabra Cadabra” essa com os teclados virtuosos e progressistas de Rick Wakemam, tecladista do Yes e com o violão “irritante” de Iommi que tiraria o vocalista “comedor de morcego” do sério mais tarde. Clássico inesquecível na primeira audição, nunca mais o Sabbath conseguiu fazer um álbum tão bem acabado e produzido como esse. Detalhe que a capa foi feita pelo artista gráfico/design americano Drew Struzan, notório por fazer trabalhos em cartazes de filmes do cinema americano, nela retrata um homem tendo um pesadelo numa cama com uma caveira e sobressaindo mãos e o numero 666, a capa poderia ser cartaz de qualquer clássico da Hammer Films. Bem, depois da saída turbulenta de Ozzy e sua bem sucedida carreira solo, em 1978/1979 a banda seguiu o seu caminho com outros vocalistas mas a magia se perdeu. Sem Ozzy não era a mesma coisa. Tive o prazer de me deparar de frente com o “senhor das trevas” por duas vezes (Rock In Rio, 85 gordo como um porco e no auge de seus problemas etílicos e no Monster of Rock de 1996) Depois de idas e vindas a banda finalmente anuncia sua tourneé de despedida em 2015/2016, Sempre me recusei a ver o Sabbath em outras incursões ao solo brasileiro em formações vergonhosas que não dignificavam a lenda Black Sabbath, os criadores do Heavy Metal e tudo o que viria ser chamado de Rock Pesado. Mas agora seria diferente, seria o momento de vê-los quase com a formação original (sem Ward) em dezembro de 2016 com os remanescentes originais beirando os 70 anos, fazem em um concerto honesto e emocionante. Sabbath forever!

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Smoke on the water...



Havia uma época nos anos 80 que existia um disco que se fazia presente em todos os lares de quem curtia esse tal de rock n´roll. O cara podia curtir progressivo ou punk, folk ou até metal, mas no meio de sua coleção de discos sempre ele aparecia impoluto, soberano e reinava no meio das festas, no momento de “air guitars” no churrasco ao meio do “mico” coletivo. Esse disco era o Machine Head do Deep Purple do ano de 1972. Clássico instantâneo, seu virtuosismo, sua “velocidade” a capa espetacular tudo jogava a favor do disco, era colocar o vinil na vitrola e aquele ar de serenidade na reunião com os amigos se perdia completamente. Nessa época havia uma frente nostálgica que se recusava achar que o novo som inglês que tocava freneticamente na rádio Fluminense, a maldita não era o Rock N´Roll autentico e essa vertente nostálgica que se recusava “passar pelo o ano de 1975” tinha nesse disco do Deep Purple sua referencia Máxima. O Purple junto ao Black Sabbath e ao Led Zeppelin formava a santíssima trindade do tal Rock Pesado era heresia pura tecer qualquer comentário de critica a banda por menor que fosse correndo risco a ficar no limbo total das amizades que se seguiam naqueles anos oitenta. Mas devo dizer que nunca fui um fã ardoroso da banda de Ritchie Blackmore em vários momentos eu achei o Deep Purple, datado, cafona e até chato. Tudo se devia ao tecladista Jon Lord que incorporava ao som pesado da banda elementos de música clássica e me fazendo ligar em outras bandas e outros artistas. Mas em Machine Head é inegável que eles atingiram o ápice criativo, tanto nas composições e como instrumentistas, o virtuosismo não é excessivo, tudo no álbum parece ser metricamente calculado. O Cantor Ian Gillan mostra como um “Band Leader” pode fazer com sua voz, e é impressionante o que ele canta nesse disco. Ritchie Blackmore, que detratores dizem ser uma mala, um chato, mas independente de qualquer coisa é um grande guitarrista que constituiu um estilo próprio e inconfundível, toca demais no álbum se tornando assim um dos maiores músicos das seis cordas e junto ao eficiente Roger Glover no baixo e o soberbo baterista Ian Gillan fizeram o Purple uma das bandas mais famosas dos anos setenta, com uma fama que duraria por anos a fio mesmo depois do fim da banda. Machine Head e o ao vivo Made In Japan eram citados sempre pela rapaziada prafrentex como discos clássicos, discos que você teria que ter na sua estante. Mas a minha implicância sempre foi o órgão de “churrascaria” de Jon Lord. Achava excessivo ao som do grupo. Mas as composições desse disco são tão sensacionais que até isso passa batido! Ao começar por Highway Star que abria o disco já levantava qualquer defunto com seu pique extraordinário, junto ao blues Maybe I'm a Leo, a “pop” Never Before, a espacial Space Truckin com o solo viajandão  de Jon (sem ser chato!) e claro a espetacular Smoke on the water com seu riff de guitarra inconfundível, clássico supremo até aos dias de hoje, hit absoluto em todas as festinhas de hoje, ontem e sempre. Com o tempo o disco passou a ser velho, datado, muito sintonizado a uma época como os anos 70, mas não poderia deixar de citá-lo como um dos mais ouvidos - Deep Purple – Machine Head

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Don't stand so close to me...



1981 rolava solto, eu chegando perto da puberdade e o rock já era a trilha sonora para todos os momentos de frustração a alegrias. Eis que numa viagem ao interior do estado do Rio de Janeiro eu descubro a new wave de um “power trio” de instrumentistas geniais e visual “platinado”.tudo se deu através de uma coletânea de sucessos da CBS, que reunia um time “all star” do cast da gravadora que minha tia tinha comprado para embalar o final de semana em Araruama. Então entre Earth, Wind & Fire, Julio Iglesias, Michael Jackson e Supertramp tocava uma musica com refrão estranho chamado de “Dedododo Dedadada” que já tocava nas rádios tupiniquins graças a uma versão de gosto duvidoso do grupo Fevers, nome da banda? The Police! O que bateu de cara foi a bateria espetacular que sobre saia logo de Stewart Copeland. De algum jeito a música foi um “hit instantâneo” naquele fim de semana chuvoso na região dos lagos, e ficou grudado na cabeça. Claro que na volta ao Rio queria saber de tudo do The Police.  Tratei de me interagir melhor com o som e os discos da banda, por sorte minha um colega de sala de aula tinha o último disco que tinha sido lançado, o álbum em questão era o espetacular Zenyattà Mondatta, lançado um ano antes, 1980. Ao me emprestar para uma “temporada de verão” na minha casa me deparei logo de cara com vários ritmos que até então era desconhecidos ou pouco explorados por mim na minha tenra infância como o reggae, ska e o “jazz experimentalista” Na época existia um programa de vídeo clips na TV educativa que rolava aos sábados “Don´t Stand to Close to Me” que aparecia sempre era a musica que abria o álbum, clip livremente inspirado em Lolita de Nabakov, com Sting personificado em um professor, antiga ocupação do baixista. O som indecifrável era uma questão em particular com o Police. Era a tal New Wave que eu só viria saber anos mais tarde (e que já assolava a Inglaterra) o que realmente se tratava. “Drive to Tears” com o seu groove hipnótico com a cozinha Sting/Stewart Copeland e “When the World Is Running Down, You Make the Best of What's Still Around” era irresistíveis clássicos absolutos de uma época, passando pelo “mantra” “Voices In My Head” e o Hit “Dedododo Dedadada” o ska “Man in the Suitcase” ao Reggae/jazz quase dub “Shadows in the Rain” tudo era perfeito em Zenyatta. A produção de Nigel Gray, o encarte de fotos com Stewart Copeland sentado ao seu kit de Bateria, Sting tocando com um baixão acústico e Andy Summers, o guitarrista, com um guarda chuva nas ruas de Amsterdam, cidade aonde foi gravado o álbum tudo era um deleite para mim em cada audição.  Passado tantos anos depois da primeira audição ainda tenho Zenyatta Mondatta como o álbum definitivo do grupo, acho que nenhum outro disco chegou ao ponto criativo e de absoluta felicidade nas composições do que nesse álbum. Depois de Zenyatta a história é mais do que conhecida, Police conquistando o mundo e se tornando uma banda com vários hits no planeta, passou ser uma banda do primeiro escalão do rock. Em 1982, o Police chegou a tocar no Maracanazinho com um público para “Botafogo x América”, a rapaziada estava mais preocupada com os dias de reinado momesco que estavam prestes a chegar. Anos depois em 2007 na tour de reunião eu por motivos financeiros e monetários perdi a oportunidade de vê-los  ao vivo e a cores, grande frustração! The Police junto ao Clash foram fundamentais para consolidar o meu conceito de arte, de estar fora do padrão concebido e preestabelecido. Que o Rock caminhava para outros lados e outros caminhos. Sem preconceitos.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

She Bangs The Drums



1989 são daqueles anos que marcam a vida de uma pessoa, sim, são emblemáticos, sabáticos ou qualquer outro termo que queiram dar. Meu Botafogo finalmente saindo da fila de títulos e sendo campeão depois de 21 anos, eleição para presidente depois de 25 anos de ditadura militar e eu conseguindo o meu primeiro emprego. Sim foi um ano que marcou. Somado a isso um disco que saiu nesse ano cravou na alma, não só um disco, mas sim um disco espetacular! Psicodélica, dance music, rock e uma nova postura rock tudo isso num vinil de 11 músicas. O primeiro disco do Stone Roses marcou muito naquele ano de 1989. Desde que eu ouvi a música “She Bangs The Drums” na Fluminense FM saquei que havia algo de novo. Algo de diferente. Já tinha tido um contato visual com a banda e o movimento de Manchester que seria batizado de “madchester” sendo o Stone Roses a linha de frente de bandas como Happy Mondays e The Charlatans entre outras, numa revista The Face com o vocalista Ian Brown na capa que eu tinha comprado. A banda vinha com um visual desleixado camisas largas e cabelos a moda anos sessenta, tinha muito pontos a frente de bandas como Guns and Roses, Poison, Bon Jovi ou até Motley Crue que dominavam as paradas brazucas com suas calças colantes e seu rock “lamê” que de nada me diziam em criatividade e emoção. Comprei o disco na saudosa “Modern Sound” de Copacabana e a paixão pelo disco veio na primeira audição, foi arrebatador, a começar pela capa maneiríssima ao "estilo Pollock" com limões ou laranjas (até hoje não sei direito) fazendo a arte junto ao nome da banda depois por “I Wanna be Adored” que abre o disco com seu clima soturno, meio psicodélico até chegar ao clímax em apenas 4:52 minutos  depois por “She Bangs the Drums" e seu refrão contagiante, clássico supremo de qualquer festinha da época que se dizia por “prafrentex” ,“Waterfall” com um solo espetacular do guitarrista John Squire. E claro com a musica definitiva “I Am the Resurrection” que fecha o álbum em grande estilo, um álbum monumental com uma música monumental! Squire dava o som um teor psicodélico, solava o tempo todo, por vezes as suas frases de guitarra pareciam “samples” de musicas do Jefferson Airplane ou de outra banda da costa oeste americana dos anos 60. O baixista Mani não comprometia, não era um virtuoso no baixo mas se encaixava bem ao som do grupo, o vocalista Ian Brown não era um novo Robert Plant ou um novo Rod Stewart, mas a voz dele naquele momento de tantos excessos vocais tinha o timbre correto para tantos “axilas rosadas” que agrediam nossos tímpanos. Já o baterista Reni era outro papo, era o que mais me impressionava nos Stone Roses, dono de um ritmo sincopado, frenético dava ao som da banda um ar de dance music, com seu kit estranho, sem presença de “ton-tons” Nessa época já rolava um vídeo-show do grupo em blackpool, (que vi pela primeira vez em Niterói) cidade do interior da Inglaterra que sempre era muito concorrido por fãs ardorosos. Resumindo, parecia tudo e não parecia nada. Tinha Beatles, Stones, Psicodelia e sim, um pouco de som dançante no som  felizmente eu já tinha conhecido o Clash e não compartilhava de preconceitos musicais, tinha a mente e ouvidos abertos, sem preconceitos seguindo a cartilha de John Peel, não foi difícil em entrar em sintonia com eles. Pouco tempo depois apareceu a MTV Brasil com os Stone Roses em alta rotação na emissora sendo que o clipe de um “single” que não chegou a entrar no álbum “Fool´s Gold” um clássico nesses primeiros tempos da emissora, deixando um clima de expectativa para um próximo trabalho, que infelizmente não se concretizou. Nessa época meus amigos ainda estavam atrelados ao rock que parou em 1975, eles não aceitavam nem o Punk que já era pra lá de velho, eu era um dos poucos da turma que “seguia em frente” E o Stone Roses era um belo passo a frente.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Like A Rolling Stone




Desde muito criança ou como se diz por aí (desde que eu me entendo por gente) que eu ouço falar de Bob Dylan. Dylan, o menestrel, o poeta, o guardião dos injustiçados, o porta voz dos menos favorecidos e etc. Minhas primeiras audições de Bob Dylan na minha infância eram “Blowing in the Wind” que sempre tocava em algum programa com teor humanista na TV, “Lay Lady Lay” e “Hurricane” que tocavam sempre em rádios “ligths” e “good times” da vida. Um fato que sempre me chamava atenção dele em primeiro lugar era a sua estranha voz, seguido de um som simples, violão sempre predominando nas gravações, dizia meu pai que aquilo era o som caipira americano e terceiro lugar eram canções bem diferentes uma das outras. Mas nenhuma... Nenhuma mesmo era tão impactante para mim como “Like a Rolling Stone”. Quando eu escutei pela primeira vez foi um momento único, foi a caminho do colégio , tocando de algum rádio à janela nas redondezas, o refrão forte de Dylan com a sua voz nasalada e o órgão hammond clássico de Al Kooper ao fundo, tornam esse simplório momento como um dos momentos inesquecíveis na minha infância. Bem, passou o tempo me inteirei na importância de Dylan e na sua obra, devorei revistas, mas precisamente as antigas revistas Pop que meus primos tinham, já tinha a clássica coletânea Greatest Hits com a sua primeira fase, a fase de protesto, mas o negócio mesmo era ter o álbum “Highway 61 Revisited” o disco que continha originalmente “Like a Rolling Stone”. A lógica era simples, se essa música era tão extraordinária para mim naquele momento imagina o resto do álbum? Não era fácil encontrar esse disco no início dos anos 80, ele já estava fora de catalogo há muito tempo, tempos de pré Rádio Fluminense FM, o rock ainda não era a moda reinante no balneário de são Sebastião mas numa dessas andanças pelo o centro do Rio, mas precisamente na antiga Farelo Discos, eu encontro a obra-prima, velha, com a capa rabiscada, versão original americana escondida no canto, abandonado, com a famosa foto de Dylan sentado a uma entrada de uma casa com alguém atrás com uma câmera pendurada as mãos.  Puxando o disco eu me deparei com o nome Bob Dylan e levei alguns segundos a ler e entender de que se tratava de Highway 61Revisited, é bom lembrar que no inicio dos anos 80 era os anos jurássicos pré internet, naquela época não era tão banal assim ter acesso a uma simples foto de um disco clássico como esse. Ao começar por Like A Rolling Stone que abre o disco, que só por isso o disco já seria considerado um clássico instantâneo, mas o que dizer de "Tombstone Blues", "Ballad of a Thin Man"? A faixa título do álbum, que se tornou uma das músicas mais conhecidas do cantor com aquele som estranho de desenho animado se repetindo durante a música, mas o blues emocionante de "It Takes a Lot to Laugh, It Takes a Train to Cry" que teimosamente nunca conseguia ouvi-la toda por um arranhão que tinha sido feito no vinil do disco, (talvez esse o real motivo de encontrá-lo num sebo de discos) bem no finalzinho da canção e a monumental “Desolation Row” que parecia não terminar nunca, sempre num crescendo alucinante, com seu violão solando ao “estilo cigano” ao fundo da voz de Dylan e a sua gaita “mal tocada”.  A época eu não tinha idéia do que Dylan dizia, da sua poesia, das tais canções de protesto, da sua influência musical a uma geração inteira, inclusive aos Beatles, da sua maneira sempre original em fazer sua obra, de pouco a dizer e sim em mostrá-la.  Minha ligação com ele e a esse disco era puramente musical, nada, além disso. Com o passar dos anos eu conhecendo a obra toda, me inteirando melhor com a língua shakesperiana, com mais discos e mais discos dele e com a constatação absoluta de que Dylan é um poeta, um astro absoluto total da música, Highway 61 Revisited nunca saiu do posto de disco predileto dele. Tive sorte de vê-lo duas vezes ao decorrer dos anos sendo a primeira vez no Antigo festival “Hollywood Rock” na praça da apoteose, com uma pequena, porém emocionada platéia diante de um mito. Presenciávamos a história.