Desde muito criança ou como se
diz por aí (desde que eu me entendo por gente) que eu ouço falar de Bob Dylan.
Dylan, o menestrel, o poeta, o guardião dos injustiçados, o porta voz dos menos
favorecidos e etc. Minhas primeiras audições de Bob Dylan na minha infância eram
“Blowing in the Wind” que sempre tocava em algum programa com teor humanista na
TV, “Lay Lady Lay” e “Hurricane” que tocavam sempre em rádios “ligths” e “good
times” da vida. Um fato que sempre me chamava atenção dele em primeiro lugar era
a sua estranha voz, seguido de um som simples, violão sempre predominando nas
gravações, dizia meu pai que aquilo era o som caipira americano e terceiro
lugar eram canções bem diferentes uma das outras. Mas nenhuma... Nenhuma mesmo
era tão impactante para mim como “Like a Rolling Stone”. Quando eu escutei pela
primeira vez foi um momento único, foi a caminho do colégio , tocando de algum
rádio à janela nas redondezas, o refrão forte de Dylan com a sua voz nasalada e
o órgão hammond clássico de Al Kooper ao fundo, tornam esse simplório momento
como um dos momentos inesquecíveis na minha infância. Bem, passou o tempo me
inteirei na importância de Dylan e na sua obra, devorei revistas, mas
precisamente as antigas revistas Pop que meus primos tinham, já tinha a
clássica coletânea Greatest Hits com a sua primeira fase, a fase de protesto,
mas o negócio mesmo era ter o álbum “Highway 61 Revisited” o disco que continha
originalmente “Like a Rolling Stone”. A lógica era simples, se essa música era
tão extraordinária para mim naquele momento imagina o resto do álbum? Não era
fácil encontrar esse disco no início dos anos 80, ele já estava fora de
catalogo há muito tempo, tempos de pré Rádio Fluminense FM, o rock ainda não
era a moda reinante no balneário de são Sebastião mas numa dessas andanças pelo
o centro do Rio, mas precisamente na antiga Farelo Discos, eu encontro a
obra-prima, velha, com a capa rabiscada, versão original americana escondida no
canto, abandonado, com a famosa foto de Dylan sentado a uma entrada de uma casa
com alguém atrás com uma câmera pendurada as mãos. Puxando o disco eu me deparei com o nome Bob
Dylan e levei alguns segundos a ler e entender de que se tratava de Highway 61Revisited, é bom lembrar que no inicio dos anos 80 era os anos jurássicos pré
internet, naquela época não era tão banal assim ter acesso a uma simples foto
de um disco clássico como esse. Ao começar por Like A Rolling Stone que abre o
disco, que só por isso o disco já seria considerado um clássico instantâneo,
mas o que dizer de "Tombstone Blues", "Ballad of a Thin
Man"? A faixa título do álbum, que se tornou uma das músicas mais
conhecidas do cantor com aquele som estranho de desenho animado se repetindo
durante a música, mas o blues emocionante de "It Takes a Lot to Laugh, It
Takes a Train to Cry" que teimosamente nunca conseguia ouvi-la toda por um
arranhão que tinha sido feito no vinil do disco, (talvez esse o real motivo de
encontrá-lo num sebo de discos) bem no finalzinho da canção e a monumental
“Desolation Row” que parecia não terminar nunca, sempre num crescendo
alucinante, com seu violão solando ao “estilo cigano” ao fundo da voz de Dylan
e a sua gaita “mal tocada”. A época eu
não tinha idéia do que Dylan dizia, da sua poesia, das tais canções de
protesto, da sua influência musical a uma geração inteira, inclusive aos
Beatles, da sua maneira sempre original em fazer sua obra, de pouco a dizer e
sim em mostrá-la. Minha ligação com ele
e a esse disco era puramente musical, nada, além disso. Com o passar dos anos
eu conhecendo a obra toda, me inteirando melhor com a língua shakesperiana, com
mais discos e mais discos dele e com a constatação absoluta de que Dylan é um
poeta, um astro absoluto total da música, Highway 61 Revisited nunca saiu do
posto de disco predileto dele. Tive sorte de vê-lo duas vezes ao decorrer dos
anos sendo a primeira vez no Antigo festival “Hollywood Rock” na praça da
apoteose, com uma pequena, porém emocionada platéia diante de um mito. Presenciávamos
a história.
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