Lembro-me quando escutei pela
primeira vez Ramones, eu detestei. Som alto, tosco, parecia mal gravado,
juntando a aparência maltrapilha dos músicos me dava uma ideia de que era algum
grupo de mendigos. Sim, mesmo a música sendo tocada numa rádio (Fluminense FM,
a maldita) eu já tinha visto umas fotos da banda. Eu não lembro qual música era,
nem cheguei ouvir a musica toda, bastou alguns segundos para trocar de dial no
radio. O som não era “perigoso” só não me tocava. Eu achava um absurdo que
aqueles cabeludos que pareciam um bando de motoqueiros terem algum tipo de reconhecimento
no mundo do rock. Eu não conhecia o Punk, devia ter 13 ou 14 anos, não sei ao
certo. Pra mim o que era o máximo da rebeldia, da Periculosidade
eram os Stones, Who e Beatles. Mas certo dia de 1984 caiu em minhas
mãos o primeiro disco da banda nova-iorquina, Ramones disco homônimo. Um colega
de escola me convenceu a escutar aquele disco, sei lá por que motivos que entusiasmado,
dizia “Pô se você curte o The Who pode ter certeza que vai curtir esse disco”
eu dizia que não podia ter nenhuma conexão da Banda de Pete Townshend com aquilo.
Acabei levando o disco para casa e depois de várias semanas de insistência, num
sábado resolvi escutar o disco já com a pré concepção que não iria gostar. Bem na primeira música uma bordoada de dois
minutos e quarenta e um segundos que iria mudar todo o meu conceito em definitivo;
Blitzkrieg Bop, uma típica canção dos Ramones que eles se especializaram em
fazer durante toda sua carreira. Uma guitarra alta, rápida e o vocal urgente,
sem firulas, a partir daquele momento o rock progressivo começava a perder
sentido para mim. O que era aquilo? Pensava eu a cada audição... "Judy Is A Punk" "Listen
To My Heart”, “I Don't Wanna Walk Around With You" todas muito curtas,
barulhentas e rápidas. Todas
davam uma sensação de querer mais. Sim, eu via muita conexão com o Who e o
melhor que eu via muito mais. Por certos momentos pareciam ser os Beach Boys
tocavam aquilo, só que chapados, alucinados, havia alguma harmonização naquilo
como os garotos praianos, mas de uma forma diferente, rápida, cheia de energia
adolescente, mesmo que na época eu não tivesse muita noção disso. O colega de
escola tinha razão, o som era alto, muito alto! A banda não tinha esmero em
tocar, não tinha solos “babantes” de um Jimmy Page ou Rick Wakeman... Mas eu
pouco ligava para aquilo naquele momento. O negócio era que eu era apresentado
ao punk rock americano. Ramones na veia. Tive sorte alguns anos mais tarde em
me deparar com Joey Ramone e seus comparsas por três oportunidades inclusive no
malfadado show do Canecão onde houve a famosa treta da bomba de gás, apenas uma
típica manifestação adolescente. Bem típico dos Ramones.
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