domingo, 13 de setembro de 2015

London Calling...

London Calling é o terceiro álbum de estúdio da banda britânica de punk rock The Clash. Foi lançado em 14 de dezembro de 1979 e representou uma mudança no estilo musical da banda, com elementos mais marcantes de ska, funk, pop, soul, jazz, rockabilly e reggae. As letras apresentavam temáticas sociais, abordando o desemprego, conflitos raciais, uso de drogas e a responsabilidade da vida adulta. Na época do seu lançamento, London Calling teve boa receptividade da crítica e do público. Hoje está na lista dos 200 álbuns definitivos no Rock and Roll Hall of Fame. A faixa-título garantiu à banda seu maior sucesso em single até então.
"Está na hora de evoluirmos. Não faz mais sentindo em escrevermos músicas que ninguém entende os vocais. Nós somos um grupo de rock e não apenas um grupo punk. Temos condições de evoluirmos e tocarmos outros estilos."

Essa frase ocupava a cabeça dos quatro integrantes do The Clash, especialmente a de Joe Strummer. Ao voltarem para a Inglaterra, um sentimento de felicidade tomava conta da banda e eles se viram metidos em um filme que estava sendo conduzido por Jack Hazan e David Hockney, um semi-documentário estrelado pelo Clash e Ray Gange, velho amigo de Joe e que acabou sendo excluído pelas constantes dores de cabeça que provocava, além da bebedeira. Assim, nascia o filme Rudi Can't Fail.
Em 1979 o grupo entra em estúdio novamente e em maio lançam um novo EP, The Cost Of Living. Apesar de tentarem fugir do estigma de "grupo político", o Clash lançou o disco no mesmo mês das eleições gerais na Inglaterra e em duas versões: a primeira contendo a canção "Capitol Radio" e uma entrevista e a segunda, mais caprichada, e com músicas extras: "I Fought The Law", "Groovy Time", "Gates of The West" e a própria "Capitol Radio".

"I Fought The Law" foi bem executada nas rádios e o EP, mesmo não entrando nas paradas, teve boa recepção.

E a banda teve a notícia que Give 'Em Enough Rope havia tido uma boa vendagem na América e que, por causa disso, o primeiro disco da banda seria editado naquele país com algumas modificações.

The Clash era maciçamente importado e esse sucesso acabou convencendo a CBS a editar uma versão americana. O lançamento acabou tendo um desempenho razoável, mas isso não preocupou o Clash. O que preocupava a banda era o novo disco, o terceiro, que historicamente é sempre o mais complicado da carreira de um artista.

Mas o Clash não atravessava um período de crise, ou de falta de inspiração, muito pelo contrário. Joe e Mick compunham febrilmente e a banda decidiu deixar para trás o seu passado punk. Para esse novo projeto, convidaram o produtor Guy Stevens, que havia produzido o grupo Mott the Hoople.

A parceria entre Stevens e o Clash foi tão boa que de repente a banda se viu com várias canções novas e uma constatação: apenas um disco duplo conseguiria mostrar todas as faces do novo som.

uma das várias capas de Rude Boy em VHSO grande problema é que os fãs do grupo sempre foram reconhecidamente pobres e dificilmente poderiam comprar um disco duplo. A saída encontrada pela CBS, porém, acabou resolvendo o dilema: os dois discos seriam colocados em uma capa simples, o que diminuiria o custo e, conseqüentemente, o preço.

Em um mês o disco estava gravado e o grupo acabou voltando para os Estados Unidos para outra série de shows e para consolidar a fama da banda no novo mercado.

Com novos empresários - Peter Jenner e Andrew King, que haviam trabalhado com o Pink Floyd nos anos sessenta - o Clash vivia um bom momento empresarial, longe das confusões do ex-associado Bernie Rhodes.

Uma das primeiras e maiores preocupações dos dois empresários, era impedir que o filme Rude Can't Fail - rebatizado como Rude Boy - fosse lançado. A idéia era tentar acabar - como se fosse possível - com a imagem de "banda política", que havia feito a fama do quarteto.

Aparentemente seria uma tarefa fácil, já que o Clash não havia assinado contrato algum com os diretores, mas Rhodes, que empresariava a banda à época, havia aceitado e já gasto o dinheiro do filme, o que acabou impossibilitando o veto à película, que foi lançada em março de 1980, no teatro Prince Charles, em Londres.

The Clash Take the Fifth foi o nome da turnê que varreu a América e fez da banda um sucesso.

Os shows tiveram lotações esgotadas e os integrantes viveram dias felizes, particularmente Mick Jones, que pode rever sua mãe, que vivia agora em Minneapolis e foi ver seu filho tocar.

A banda foi convidada a participar de um festival chamado MUSE (Musicians United for Safe Energy), realizado no Madison Square Garden, em Nova York, e posteriormente lançado em um disco triplo chamado No Nuke, mas recusou, utilizando a idéia dos novos empresários de não soarem mais como um grupo de causas políticas.

Na volta à Inglaterra, alguns acontecimentos agitariam a vida do grupo. O primeiro, era a notícia que Rude Boy estava já sendo editado. E havia também - e muito mais importante - a iminência do lançamento de London Calling.

Mas antes do disco sair, eles se trancaram em um estúdio com Mickey Gallagher e escreveram novas canções, sendo a melhor delas, Armigideon Time, que queriam colocar no novo trabalho. Mas ela foi deixada para ser o lado B do novo compacto, London Calling.

O single saiu no dia 7 de dezembro, exatamente uma semana antes do disco de mesmo nome. E os dois fizeram um tremendo sucesso, batendo entre os 10 mais na Inglaterra. O disco surpreendia por vários aspectos.

Na capa do disco London Calling a fotografia da capa mostra o baixista Paul Simonon usando seu baixo como se fosse um machado e foi tirada por Pennie Smith durante um show, em Nova York.

Simonon conta que tomou tal atitude por se sentir frustrado com o público, que ficou sentado durante quase toda a apresentação, enquanto, normalmente, na Inglaterra, os fãs pulavam o tempo inteiro.

Pennie contou que não gostou da escolha da foto, pois achava que ela estava fora de foco e apagada. "Só quando vi a concepção de todo o trabalho é que percebi como a foto era perfeita." Mas mais do que a fotografia, o Clash inovava no som - rockabillys poderosos como "Brand New Cadillac", jazz em "Jimmy Jazz" e mostrando que continuavam mais contundentes nas letras do que antes.

O lado mais "político" que tanto horror causava aos novos empresários estava escancarado em faixas com "Spanish Bombs" - inspirada na Guerra Civil Espanhola -, "Working for the Clapdown", "Wrong 'Em Boyo" e na faixa-título.

O grupo homenageava também o ex-ator norte americano Montgomery Clift, ícone da rebeldia na década de 50 e que morreu ainda jovem, na canção "The Right Profile".

E, talvez, a maior surpresa tenha sido "The Guns of Brixton" escrita e cantada por Paul Simonon. Paul conta que queria participar mais das canções e ouviu um conselho que poderia levantar algum dinheiro extra dentro da banda como compositor. "Foi quando tive a idéia de escrever eu mesmo uma canção e cantá-la, o que seria inédito para mim."

O disco trazia as seguintes faixas:

Lado 1

01. "London Calling" 3:19
02. "Brand New Cadillac" 2:09
03. "Jimmy Jazz" 3:51
04. "Hateful" 3:22
05. "Rudie Can't Fail" 3:26

Lado 2

01. "Spanish Bombs" 3:18
02. "The Right Profile" 4:00
03. "Lost in the Supermarket" 3:47
04. "Clampdown" 3:50
05. "The Guns of Brixton" 3:07

Lado 3

01. "Wrong 'Em Boyo" 3:10
02. "Death or Glory" 3:55
03. "Koka Kola" 1:45
04. "The Card Cheat" 3:51

Lado 4

01. "Lover's Rock" 4:01
02. "Four Horsemen" 3:00
03. "I'm Not Down" 3:00
04. "Revolution Rock" 5:37
05. "Train in Vain" 3:11

No Natal de 1979, o grupo anunciou uma nova excursão, a The Sixteen Tons Tour e o grupo foi uma das estrelas do concerto para os famintos de Kampuchea, na última semana do ano, ao lado de Paul McCartney, Queen e Elvis Costello. Um disco duplo do festival foi lançado em 1981 e o grupo cedeu a canção "Armigideon Time".

No entanto, a primeira canção a fazer sucesso nas paradas norte-americanas não constava, curiosamente, nos créditos do disco. "Train In Vain" era a última canção de London Calling, mas por algum erro foi omitida da contra-capa, fato que não impediu a mesma de entrar entre as 30 mais nos Estados Unidos. Anos depois, em uma briga com Paul Weller, do The Jam, Weller diria que o Clash só havia feito sucesso na América ao tentarem fazer uma "cópia de quinta categoria de soul music".

Joe, Mick e Paul conversam com Pete Townshend após o showO grupo estreou uma nova turnê, tendo Ian Dury and the Blockheads como acompanhantes e um convidado mais do que especial em um show em Brighton: nada menos do que Pete Townshend, líder do The Who, que era um grande fã da militância de Strummer e companhia e que tocou em várias canções.

Era o encontro de duas gerações do rock inglês e o reconhecimento público que o Clash tanto precisava. Ou como lembrou Joe: "quando Pete afirmou que gostava muito das novas bandas, em especial o Clash, nos deu a prova de que éramos mais do que uma simples gangue de punks. Não apenas para nós, mas para todos nossos críticos."

Mas a turnê também teve alguns problemas. Topper Headon acabou se machucando e algumas datas precisaram ser remarcadas. Além disso, o baterista e Joe foram molestados pela polícia, que os acusavam de porte de drogas, no hotel Southsea. Enquanto isso, Rude Boy havia sido escolhido para representar a Inglaterra no festival de cinema de Berlim, mas a película enfrentava sérios problemas com a censura, por obscenidade.

Alheios à tudo isso, a banda cai na estrada novamente, desta vez nos Estados Unidos, e Paul Simonon recebe um convite para aparecer em um filme de Lou Adler, All Washed Up, que seria rodado em Vancouver, no Canadá.

As apresentações nos Estados Unidos foram espetaculares e o grupo até virou capa da conservadora revista de música Rolling Stone. Mas a banda enfrentaria novos problemas na Europa.

Em Hamburgo, na Alemanha, durante uma apresentação, fãs mais radicais começaram a vaiar e exigir as canções antigas e xingavam o grupo. Irritado, Joe arremessou sua guitarra contra um deles e foi preso.

Strummer só foi solto após provar que não estava bêbado. Esse foi apenas um dos inúmeros problemas do grupo. Durante a turnê americana, Joe e Mick começaram a discutir, porque o segundo exigia que "White Riot", fizesse parte do repertório da banda, enquanto Joe se negava a cantar a música. Strummer ganhou a briga, mas as rixas internas só aumentavam.

Sobre a confusão em Hamburgo, Joe comentou: "eu quase matei aquele jovem e percebi que deve ter outra maneira de combater a violência que não seja com mais violência. Se estamos sendo empurrados para situações limites em que posso matar alguém da platéia ou ficar brigando com gente dentro da banda, preciso saber realmente o que estamos fazendo. De qualquer maneira, acredito que não estamos produzindo nada de útil, apenas um monte de nada."

capa do compacto Bank RobberE o grupo começou a encontrar projetos paralelos. Enquanto Joe prometia construir seu próprio estúdio e gravar suas músicas, Paul continuava entretido na produção do filme no Canadá e Mick dava uma força em um disco de sua namorada, Ellen Foley.

Em julho de 1980, o grupo acaba com o silêncio de lançamentos do primeiro semestre e lança um novo compacto: Bank Robber / Rockers Galore...UK Tour.

O disco foi produzido por Mickey Dread, um protegido da banda que cantou a faixa do lado B do compacto. O sucesso da canção, uma letra nitidamente anarquista, colocou o compacto no 12º lugar das paradas e mostrou o prestígio do grupo.

capa do compacto The Call UpEm novembro é lançado um novo compacto que dava algumas mostras do novo som: The Call Up / Stop The World.

Mais do que nunca, o Clash se mostrava essencialmente político e pedia o fim do National Service - o alistamento obrigatório - dando inclusive o endereço da organização norte-americana Immobilise Against the Draft, embora o alistamento neste país não fosse mais obrigatório há um bom tempo. "Stop the World" fazia parte da campanha do desarmamento nuclear.

Simonon lembra dos problemas que o Clash enfrentava para conseguir gravar suas canções: "era um verdadeiro pesadelo. Aquele bando de engravatados idiotas chegavam no estúdio e queriam opinar, como se entendessem algo. Teve um que disse que 'The Call Up' parecia David Bowie tocado de trás para frente. Olhamos um para o outro e perguntamos o que diabos ele queria dizer com aquilo."


Joe era outro que sofria com essas interferências: "em uma ocasião joguei a guitarra no colo de um deles e disse 'componha você mesmo uma canção e ficarei na sua sala, com ar-condicionado e fumando um charuto, seu idiota. Cinco minutos depois, o cara veio pedir desculpas e não voltou mais a nos incomodar. Mas sempre aparecia um outro. Era enervante."

Dias depois é lançado no mercado norte-americano uma compilação de nove canções que não haviam sido editadas na América: Black Market Clash.

Apenas um disco oportunista, para faturar e completar a coleção dos fãs na América, enquanto o novo disco ainda não era lançado.

Surpreendentemente, Black Market Clash teve um ótimo desempenho nas paradas norte-americanas (para um disco do Clash...) vendendo lá quase o mesmo número que London Calling e entrando entre os 100 mais. Em 1993, esse disco recebeu o nome de Super Black Market Clash e saiu em uma edição melhorada, com 21 canções, cobrindo toda a carreira do grupo.

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