1989 são daqueles anos que marcam
a vida de uma pessoa, sim, são emblemáticos, sabáticos ou qualquer outro termo
que queiram dar. Meu Botafogo finalmente saindo da fila de títulos e sendo
campeão depois de 21 anos, eleição para presidente depois de 25 anos de ditadura
militar e eu conseguindo o meu primeiro emprego. Sim foi um ano que marcou. Somado
a isso um disco que saiu nesse ano cravou na alma, não só um disco, mas sim um
disco espetacular! Psicodélica, dance music, rock e uma nova postura rock tudo isso
num vinil de 11 músicas. O primeiro disco do Stone Roses marcou muito naquele ano de 1989.
Desde que eu ouvi a música “She Bangs The Drums” na Fluminense FM saquei que
havia algo de novo. Algo de diferente. Já tinha tido um contato visual com a
banda e o movimento de Manchester que seria batizado de “madchester” sendo o Stone Roses a
linha de frente de bandas como Happy Mondays e The Charlatans entre outras, numa
revista The Face com o vocalista Ian Brown na capa que eu tinha comprado. A banda vinha com
um visual desleixado camisas largas e cabelos a moda anos sessenta, tinha muito pontos a frente de bandas como Guns and Roses, Poison, Bon Jovi ou até Motley Crue que dominavam as paradas brazucas com suas calças colantes e seu rock “lamê”
que de nada me diziam em criatividade e emoção. Comprei o disco na saudosa “Modern Sound”
de Copacabana e a paixão pelo disco veio na primeira audição, foi arrebatador, a
começar pela capa maneiríssima ao "estilo Pollock" com limões ou laranjas (até hoje não sei
direito) fazendo a arte junto ao nome da banda depois por “I Wanna be Adored”
que abre o disco com seu clima soturno, meio psicodélico até chegar ao clímax em
apenas 4:52 minutos depois por “She
Bangs the Drums" e seu refrão contagiante, clássico supremo de qualquer festinha
da época que se dizia por “prafrentex” ,“Waterfall” com um solo espetacular do
guitarrista John Squire. E claro com a musica definitiva “I Am the Resurrection”
que fecha o álbum em grande estilo, um álbum monumental com uma música
monumental! Squire dava o som um teor psicodélico, solava o tempo todo, por
vezes as suas frases de guitarra pareciam “samples” de musicas do Jefferson
Airplane ou de outra banda da costa oeste americana dos anos 60. O baixista Mani
não comprometia, não era um virtuoso no baixo mas se encaixava bem ao som do
grupo, o vocalista Ian Brown não era um novo Robert Plant ou um novo Rod
Stewart, mas a voz dele naquele momento de tantos excessos vocais tinha o
timbre correto para tantos “axilas rosadas” que agrediam nossos tímpanos. Já o baterista
Reni era outro papo, era o que mais me impressionava nos Stone Roses, dono de
um ritmo sincopado, frenético dava ao som da banda um ar de dance music, com
seu kit estranho, sem presença de “ton-tons” Nessa época já rolava um vídeo-show
do grupo em blackpool, (que vi pela primeira vez em Niterói) cidade do interior
da Inglaterra que sempre era muito concorrido por fãs ardorosos. Resumindo,
parecia tudo e não parecia nada. Tinha Beatles, Stones, Psicodelia e sim, um
pouco de som dançante no som felizmente eu já tinha conhecido o Clash e não
compartilhava de preconceitos musicais, tinha a mente e ouvidos abertos, sem
preconceitos seguindo a cartilha de John Peel, não foi difícil em entrar em sintonia com eles. Pouco tempo depois apareceu a MTV Brasil com os Stone Roses em alta rotação na emissora sendo que o clipe de
um “single” que não chegou a entrar no álbum “Fool´s Gold” um clássico nesses
primeiros tempos da emissora, deixando um clima de expectativa para um próximo
trabalho, que infelizmente não se concretizou. Nessa época meus amigos ainda
estavam atrelados ao rock que parou em 1975, eles não aceitavam nem o Punk que já
era pra lá de velho, eu era um dos poucos da turma que “seguia em frente” E o
Stone Roses era um belo passo a frente.
quarta-feira, 26 de outubro de 2016
quarta-feira, 19 de outubro de 2016
Like A Rolling Stone
Desde muito criança ou como se
diz por aí (desde que eu me entendo por gente) que eu ouço falar de Bob Dylan.
Dylan, o menestrel, o poeta, o guardião dos injustiçados, o porta voz dos menos
favorecidos e etc. Minhas primeiras audições de Bob Dylan na minha infância eram
“Blowing in the Wind” que sempre tocava em algum programa com teor humanista na
TV, “Lay Lady Lay” e “Hurricane” que tocavam sempre em rádios “ligths” e “good
times” da vida. Um fato que sempre me chamava atenção dele em primeiro lugar era
a sua estranha voz, seguido de um som simples, violão sempre predominando nas
gravações, dizia meu pai que aquilo era o som caipira americano e terceiro
lugar eram canções bem diferentes uma das outras. Mas nenhuma... Nenhuma mesmo
era tão impactante para mim como “Like a Rolling Stone”. Quando eu escutei pela
primeira vez foi um momento único, foi a caminho do colégio , tocando de algum
rádio à janela nas redondezas, o refrão forte de Dylan com a sua voz nasalada e
o órgão hammond clássico de Al Kooper ao fundo, tornam esse simplório momento
como um dos momentos inesquecíveis na minha infância. Bem, passou o tempo me
inteirei na importância de Dylan e na sua obra, devorei revistas, mas
precisamente as antigas revistas Pop que meus primos tinham, já tinha a
clássica coletânea Greatest Hits com a sua primeira fase, a fase de protesto,
mas o negócio mesmo era ter o álbum “Highway 61 Revisited” o disco que continha
originalmente “Like a Rolling Stone”. A lógica era simples, se essa música era
tão extraordinária para mim naquele momento imagina o resto do álbum? Não era
fácil encontrar esse disco no início dos anos 80, ele já estava fora de
catalogo há muito tempo, tempos de pré Rádio Fluminense FM, o rock ainda não
era a moda reinante no balneário de são Sebastião mas numa dessas andanças pelo
o centro do Rio, mas precisamente na antiga Farelo Discos, eu encontro a
obra-prima, velha, com a capa rabiscada, versão original americana escondida no
canto, abandonado, com a famosa foto de Dylan sentado a uma entrada de uma casa
com alguém atrás com uma câmera pendurada as mãos. Puxando o disco eu me deparei com o nome Bob
Dylan e levei alguns segundos a ler e entender de que se tratava de Highway 61Revisited, é bom lembrar que no inicio dos anos 80 era os anos jurássicos pré
internet, naquela época não era tão banal assim ter acesso a uma simples foto
de um disco clássico como esse. Ao começar por Like A Rolling Stone que abre o
disco, que só por isso o disco já seria considerado um clássico instantâneo,
mas o que dizer de "Tombstone Blues", "Ballad of a Thin
Man"? A faixa título do álbum, que se tornou uma das músicas mais
conhecidas do cantor com aquele som estranho de desenho animado se repetindo
durante a música, mas o blues emocionante de "It Takes a Lot to Laugh, It
Takes a Train to Cry" que teimosamente nunca conseguia ouvi-la toda por um
arranhão que tinha sido feito no vinil do disco, (talvez esse o real motivo de
encontrá-lo num sebo de discos) bem no finalzinho da canção e a monumental
“Desolation Row” que parecia não terminar nunca, sempre num crescendo
alucinante, com seu violão solando ao “estilo cigano” ao fundo da voz de Dylan
e a sua gaita “mal tocada”. A época eu
não tinha idéia do que Dylan dizia, da sua poesia, das tais canções de
protesto, da sua influência musical a uma geração inteira, inclusive aos
Beatles, da sua maneira sempre original em fazer sua obra, de pouco a dizer e
sim em mostrá-la. Minha ligação com ele
e a esse disco era puramente musical, nada, além disso. Com o passar dos anos
eu conhecendo a obra toda, me inteirando melhor com a língua shakesperiana, com
mais discos e mais discos dele e com a constatação absoluta de que Dylan é um
poeta, um astro absoluto total da música, Highway 61 Revisited nunca saiu do
posto de disco predileto dele. Tive sorte de vê-lo duas vezes ao decorrer dos
anos sendo a primeira vez no Antigo festival “Hollywood Rock” na praça da
apoteose, com uma pequena, porém emocionada platéia diante de um mito. Presenciávamos
a história.
terça-feira, 11 de outubro de 2016
Judy Is A Punk!
Lembro-me quando escutei pela
primeira vez Ramones, eu detestei. Som alto, tosco, parecia mal gravado,
juntando a aparência maltrapilha dos músicos me dava uma ideia de que era algum
grupo de mendigos. Sim, mesmo a música sendo tocada numa rádio (Fluminense FM,
a maldita) eu já tinha visto umas fotos da banda. Eu não lembro qual música era,
nem cheguei ouvir a musica toda, bastou alguns segundos para trocar de dial no
radio. O som não era “perigoso” só não me tocava. Eu achava um absurdo que
aqueles cabeludos que pareciam um bando de motoqueiros terem algum tipo de reconhecimento
no mundo do rock. Eu não conhecia o Punk, devia ter 13 ou 14 anos, não sei ao
certo. Pra mim o que era o máximo da rebeldia, da Periculosidade
eram os Stones, Who e Beatles. Mas certo dia de 1984 caiu em minhas
mãos o primeiro disco da banda nova-iorquina, Ramones disco homônimo. Um colega
de escola me convenceu a escutar aquele disco, sei lá por que motivos que entusiasmado,
dizia “Pô se você curte o The Who pode ter certeza que vai curtir esse disco”
eu dizia que não podia ter nenhuma conexão da Banda de Pete Townshend com aquilo.
Acabei levando o disco para casa e depois de várias semanas de insistência, num
sábado resolvi escutar o disco já com a pré concepção que não iria gostar. Bem na primeira música uma bordoada de dois
minutos e quarenta e um segundos que iria mudar todo o meu conceito em definitivo;
Blitzkrieg Bop, uma típica canção dos Ramones que eles se especializaram em
fazer durante toda sua carreira. Uma guitarra alta, rápida e o vocal urgente,
sem firulas, a partir daquele momento o rock progressivo começava a perder
sentido para mim. O que era aquilo? Pensava eu a cada audição... "Judy Is A Punk" "Listen
To My Heart”, “I Don't Wanna Walk Around With You" todas muito curtas,
barulhentas e rápidas. Todas
davam uma sensação de querer mais. Sim, eu via muita conexão com o Who e o
melhor que eu via muito mais. Por certos momentos pareciam ser os Beach Boys
tocavam aquilo, só que chapados, alucinados, havia alguma harmonização naquilo
como os garotos praianos, mas de uma forma diferente, rápida, cheia de energia
adolescente, mesmo que na época eu não tivesse muita noção disso. O colega de
escola tinha razão, o som era alto, muito alto! A banda não tinha esmero em
tocar, não tinha solos “babantes” de um Jimmy Page ou Rick Wakeman... Mas eu
pouco ligava para aquilo naquele momento. O negócio era que eu era apresentado
ao punk rock americano. Ramones na veia. Tive sorte alguns anos mais tarde em
me deparar com Joey Ramone e seus comparsas por três oportunidades inclusive no
malfadado show do Canecão onde houve a famosa treta da bomba de gás, apenas uma
típica manifestação adolescente. Bem típico dos Ramones.
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